quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Você é inteligente o bastante para ser bem sucedido nos investimentos?

SÃO PAULO - Algumas estratégias ou operações no mercado parecem complexas demais para o grande público. Por isso a bolsa assumiu um rótulo de sofisticação durante alguns anos, que começa a ser desmistificado com o recente ganho de popularidade da renda variável.
Diversos mitos que o mercado carrega são derrubados pouco a pouco. Um deles é associar inteligência ao sucesso como investidor em bolsa.
O debate vai além. Desde a infância, não há quem não ouviu aquela projeção de professores ou dos colegas de escola: fulano é quem tem maior chance de ser bem sucedido.
É comum associar desempenho nos estudos ou velocidade de raciocínio à capacidade de acumular riqueza. De fato, é inegável que indivíduos com melhor formação tendem a conseguir salários mais altos no mercado. No entanto, as pesquisas mais recentes sobre o assunto costumam separar duas situações: acumular riqueza e gerar riqueza.
O fator QI
Um estudo do economista Jay Zagorsky, pela Universidade de Ohio, apontou que da mesma maneira com que os indivíduos excepcionalmente inteligentes costumam ganhar mais, também tendem a ser mais gastadores (proporcionalmente à renda) que indivíduos com grau de inteligência mais modesto.
Nesta pesquisa, as amostragens levantadas por Zagorsky indicaram, entre outros pontos, que indivíduos com QI em torno de 105 pontos geralmente detinham um rendimento maior que o grupo de pessoas com QI de 110 pontos, o que refuta a hipótese de riqueza diretamente correlacionada com grau de inteligência.
Além de algumas experiências acadêmicas, a própria realidade dos mercados costuma oferecer exemplos interessantes. Um caso clássico é a falha do Long Term Capital Management. O fundo criado e administrado por dois gênios do mercado, Myron Scholes e Robert Merton, precisou liquidar suas posições e provocou uma avalanche no mercado de crédito, demandando a intervenção do Fed e de diversas instituições financeiras para evitar o pior.
Não é garantia de sucesso
Merton e Scholes, entre outras proezas, colaboraram no desenvolvimento do famoso modelo Black Scholes de precificação de opções e receberam o prêmio Nobel de economia de 1997. Contrariando a percepção comum, a inteligência não necessariamente é requisito indispensável para um bom investidor. Mesmo que na média os inteligentes ganhem mais, os estudos de Zagorsky apontam para a dificuldade de controlar as emoções diante da exposição ao risco.
Além desta questão, outros fatores exógenos interferem nos resultados obtidos por Zagorsky. Quando a rentabilidade foi associada a outras características pessoais dos indivíduos, como estado civil e tipo de trabalho que executam, acabou por reforçar a hipótese de que não há correlação perfeita entre inteligência e rentabilidade nos investimentos. Ou seja, a variável inteligência estava capturando a influência de outras variáveis anteriormente omitidas.
Venda 30
Entre outras conclusões, estudos como este reforçam a ideia da influência de traços comportamentais no processo de tomada de decisão dos agentes de mercado. Por outro lado, os estudiosos do assunto não negam que o sucesso nos investimentos depende de uma combinação de fatores, como formação, esforço, informação, controle emocional e um mínimo de inteligência.
No livro Outliers, o autor Malcolm Gladwell explorou a mesma questão para concluir que "depois de atingir um QI próximo de 120, pontos adicionais de QI não parecem se traduzir em qualquer vantagem mensurável".
Em uma de suas célebres frases, Warren Buffett parece concordar: "se você for um investidor e possuir QI de 150, venda 30 pontos para outra pessoa".

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