sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

Lula sobe tom e faz discurso crítico em Copenhague

Sex, 18 Dez, 11h40

COPENHAGUE (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um discurso duro no último dia da conferência global sobre o clima em Copenhague, nesta sexta-feira, e disse que o Brasil está disposto a fazer sacrifícios em nome de um acordo climático.

"Confesso a todos vocês que estou um pouco frustrado", disse o presidente no início de um pronunciamento inesperado e feito de improviso, sinalizando a elevação no tom das críticas por conta do impasse nas negociações.

"Tem muita gente querendo barganhar as metas (de redução de emissões de gases-estufa). Todos nós poderíamos oferecer um pouco mais se tivéssemos assumido boa vontade nos últimos períodos", disse.

Lula, que foi aplaudido em vários momentos de seu discurso, disse que ainda acredita num acordo por ser "excessivamente otimista", mas sinalizou que dificilmente as negociações na capital dinamarquesa serão bem-sucedidas.

"Eu adoraria sair daqui com o documento mais perfeito do mundo assinado. Mas se nós não tivemos condição de fazer até agora... eu não sei se algum anjo ou algum sábio descerá nesse plenário e irá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até a hora de agora", disse.

Lula, que fez seu discurso protocolar na conferência na quinta-feira, voltou a defender que os países ricos têm responsabilidade maior pela mudança do clima. Entretanto, afirmou que o Brasil está disposto a fazer mais por um acordo, principalmente no que diz respeito ao financiamento para que países tratem das consequências da mudança do clima.

"Se for necessário fazer um sacrifício a mais, o Brasil está disposto a colocar dinheiro para ajudar outros países", disse o presidente.

"Estamos dispostos a participar do financiamento, se nós nos colocarmos de acordo numa proposta final aqui nesse encontro."

O financiamento para que países pobres adaptem suas economias às mudanças climáticas é um dos pontos de divergência nas negociações, e Lula defendeu que a doação de recursos para um fundo climático não pode ser tratado como "favor" ou "esmola".

"O dinheiro que está sendo colocado na mesa é um pagamento pela emissão de gases-estufa feitas por dois séculos por quem teve o privilégio de se industrializar primeiro", afirmou num dos momentos em que foi aplaudido.

"O Brasil não veio barganhar, nossas metas não precisam de dinheiro externo, nós iremos fazer com nossos recursos", acrescentou.

AOS QUATRO VENTOS

Lula reiterou que qualquer acordo assinado em Copenhague tem de manter os princípios do Protocolo de Kyoto, assinado em 1997 e que prevê que as nações industrializadas, exceto os EUA que não ratificaram o acordo, reduzam suas emissões de gases-estufa até 2012.

"A gente, em qualquer documento que for aprovado aqui, a gente tem que manter os princípios adotados no Protocolo de Kyoto", argumentou.

Lula, que falou antes de um discurso sem novidades do presidente dos EUA, Barack Obama, rebateu as exigências dos países ricos que querem um mecanismo de monitoramento das emissões de gases-estufa das nações em desenvolvimento. O monitoramento tem sido motivo de estranhamento entre China e EUA, que vem exigindo transparência.

A resistência da China ao monitoramento de suas emissões foi apontada pelo presidente francês, Nicolas Sarkozy, e pela secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, como um obstáculo para um acordo.

"É verdade que os países que derem dinheiro têm o direito de exigir transparência, tem direito até de exigir o cumprimento da política que for financiada", disse. "Mas é verdade que nós precisamos tomar muito cuidado com essa intrusão nos países em desenvolvimento e nos países mais pobres", acrescentou.

"A experiência que nós temos --seja do Fundo Monetário Internacional, seja do Banco Mundial-- nos nossos países não é recomendável que continue a acontecer no século 21", completou.

"O que nós queremos é ... ricos e pobres estabelecermos um ponto comum que nos permita sair daqui, orgulhosamente, dizendo aos quatro cantos do mundo que nós estamos preocupados em preservar o futuro do planeta Terra sem o sacrifício de sua principal espécie, que são homens, mulheres e crianças que vivem nesse mundo", disse o presidente.

(Texto de Eduardo Simões)

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