sábado, 5 de março de 2011

A JUSTIÇA DESTE MUNDO O julgamento dos animais

O leão, rei dos animais, mandou vir a julgamento o lobo, a raposa e o jumento.
Havia muitas queixas contra eles. Queria julgá-los e castigá-los de seus grandes crimes.
O primeiro a comparecer no tribunal foi o lobo. Trazia a boca lambuzada de sangue e os dentes cheios de carne dumas ovelhas que tinha estado a comer. Entrou muito devoto e fez uma grande vénia ao rei dos animais.
- Ó lobo, há graves acusações contra ti - rosnou feroz o leão: tens comido muitas ovelhas. Ainda por cima foste matar a cabra e os cabritinhos que eram a única riqueza do pobre pastor. Que malvadez a tua! Tão grandes crimes merecem a morte.
- Senhor leão - respondeu com muitas mesuras o lobo - A cabra era velha e remelosa. Só tinha ossos. Coitada! Andava para aí a sofrer tanto que tive pena dela e comi-a. Foi só para fazer um acto de caridade. Assim acabou-se aquela triste vida.
- E para que mataste os cabritinhos?
- Porque tive compaixão deles. Sem mãe, iam morrer de fome e tristeza. Acredite que só por caridade os comi. O que seria deles sem a mãe?
O leão pensou. Achou bonitas aquelas razões. Eram a sua doutrina. Também ele fazia o mesmo. Por isso sentenciou:
- Vai lobo, vai em paz! Estás absolvido. E o animal lá se retirou para continuar as suas malfeitorias.
A seguir compareceu a raposa, uma senhora toda serigaita. Com muitas vénias cumprimentou:
- Eu te saúdo, meu senhor leão, rei de todos os animais.
- Raposinha, disse o leão, satisfeito com tanta delicadeza, tenho aqui umas acusações contra ti: Porque foste comer o galo do convento dos frades? Não negues que estão aqui as provas.
- Ó meu rico senhor leão, é verdade que comi o galo do mosteiro. Mas foi por compaixão para com os frades. Coitados deles! O rei da capoeira acordava-os de noite com o seu canto. E os doentes? Não podiam descansar com semelhante gritaria.
- Estás perdoada - sentenciou o leão. E a raposa saiu pelo tribunal aos pulos e a rir-se da sua matreirice.
Chegou o jumento. De que culpas o acusaram? De comer um pouco de erva no campo vizinho.
- Que dizes a estas acusações? - perguntou o leão.
O jerico, como é burro e pouco inteligente, não arranjou uma desculpa esperta como a dos colegas. Baixou a cabeça e calou-se a confessar a culpa.
Vais levar já o castigo pelo teu crime - rosnou o leão. E caiu sobre ele, matou-o e comeu-o.
Esta é a justiça deste mundo.
Rouba um rico uma grande fortuna e os tribunais não o condenam.
Rouba um pobre um pão para matar a fome aos filhos e vai logo para a cadeia.
E assim em tantas coisas. A justiça deste mundo é a favor dos grandes e contra os pequenos.
Isto não pode ser assim.
Por isso há, no outro mundo, o juízo de Deus, que tudo julgará com justiça e rectidão.

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